terça-feira, 8 de março de 2011

Dá muito no que pensar:Qualificação profissional e educação não garantem o futuro?

Pessoal, deparei com este artigo do New York Times sobre educação. Sendo uma profissional de saúde e da educação, após a leitura do texto, fico pensando sobre os rumos que a formação em enfermagem devem contemplar para fazer frente aos novos tempos que nos aguardam. Processos mais complexos, inclusive os de tomada de decisão e gerenciais podem ser substituidos? Por outro lado a dimensão "care" da nossa profissão que rumos deverá tomar? Dá para pensar...

Qualificação profissional e educação não garantem o futuro
Paul Krugman Comentários [8]

Milhares de chineses desempregados visitam uma feira de emprego na cidade de Shenyang, nordeste da China. Concorrência para os trabalhadores qualificados nos Estados Unidos

Devore o futuro
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Todo mundo sabe que a educação é um fator fundamental para o sucesso econômico. E todos sabem que os empregos do futuro exigirão níveis de qualificação cada vez mais elevados. Foi por isso que, ao dar uma declaração quando estava acompanhado do ex-governador da Flórida Jeb Bush, na última sexta-feira, o presidente Barack Obama afirmou: “Se nós desejarmos mais boas notícias sobre empregos, precisaremos investir mais em educação”. Mas há um erro em relação a esta verdade conhecida por todos.

No dia seguinte ao evento do qual Barack Obama e Jeb Bush participaram, o “The Times” publicou um artigo sobre o uso crescente de softwares para a realização de pesquisas na área de direito. Os computadores são capazes de analisar rapidamente milhões de documentos, realizando de maneira barata uma tarefa que antigamente exigia um batalhão de advogados e especialistas em direito. Neste caso, então, o progresso tecnológico está na verdade reduzindo a demanda por trabalhadores com alto nível educacional. E as pesquisas na área de direito não se constituem em um exemplo isolado.

Conforme o artigo observa, os programas de computador estão também substituindo engenheiros em certas atividades, como o design de chips. Falando de forma mais abrangente, a ideia de que a tecnologia moderna elimina apenas os empregos para trabalhadores não qualificados, e de que os profissionais de alta qualificação são os nítidos vencedores, pode prevalecer nas discussões populares, mas a verdade é que tal ideia está na verdade superada há décadas.

O fato é que desde mais ou menos 1990 o mercado de trabalho dos Estados Unidos caracteriza-se não por um aumento generalizado da demanda por qualificações, mas sim por esvaziamento de uma “zona intermediária”: o número de empregos de alta e de baixa remuneração têm crescido rapidamente, mas o daqueles de remuneração média – ou seja, aquele tipo de trabalho que sustenta uma classe média robusta – tem ficado para trás. E esse buraco no campo intermediário do mercado de trabalho tem aumentado continuamente: muitas das ocupações de alta remuneração que cresceram rapidamente na década de noventa têm crescido muito mais lentamente nos últimos tempos, ainda que o índice de empregos de baixa remuneração tenha se acelerado. Por que isso está acontecendo?

A crença de que a educação está se tornando cada vez mais importante se baseia na ideia aparentemente plausível de que os avanços tecnológicos resultam em um aumento das oportunidades de emprego para aqueles indivíduos que trabalham com informação – ou, em outras palavras, na ideia de que os computadores ajudam aqueles que trabalham com o cérebro, prejudicando ao mesmo tempo as pessoas que fazem trabalhos manuais.

Alguns anos atrás, porém, os economistas David Autor, Frank Levy e Richard Murnane argumentaram que esta era a forma errada de pensar a respeito dessa questão. Eles observaram que os computadores são excelentes para as tarefa que envolvem rotina, “tarefas cognitivas e manuais que são realizadas mediante o seguimento de regras explícitas”. Portanto, qualquer tarefa rotineira – uma categoria que inclui muitos empregos qualificados, não manuais – encontra-se na linha de fogo.

Por outro lado, os trabalhos cuja execução não se dá mediante o seguimento de regras explícitas – uma categoria que inclui vários tipos de trabalho manual, de motoristas de caminhão a zeladores de edifícios – tenderão a crescer mesmo com o progresso tecnológico. A questão fundamental é que a maioria do trabalho manual que ainda está sendo realizado na nossa economia parece ser de um tipo que é difícil de automatizar.

Notavelmente, com os operários respondendo por cerca de 6% do emprego nos Estados Unidos, não restaram muitos empregos nas fábricas para serem perdidos. Enquanto isso, muitos trabalhos qualificados que são atualmente realizados por profissionais de alto nível educacional e que geram um pagamento relativamente elevado poderão ser em breve computadorizados. O aspirador de pó robotizado Roomba pode ser engraçadinho, mas falta muito ainda para que tenhamos robôs atuando como zeladores de prédios. Mas a pesquisa computadorizada na área de direito e os diagnósticos médicos auxiliados por computadores já fazem parte da realidade atual.

Além disso, há a globalização. Antigamente, só os trabalhadores de fábricas precisavam se preocupar com a concorrência do exterior, mas a combinação de computadores e telecomunicações tornou possível o fornecimento de diversos serviços à distância. E as pesquisas dos meus colegas da Universidade de Princeton, Alan Blinder e Alan Krueger, sugerem que os trabalhos de alta remuneração feitos por profissionais de elevado nível educacional são mais fáceis de serem transferidos para o exterior do que aqueles desempenhados por trabalhadores de remuneração e nível educacional mais baixos.

Caso eles estejam certos, a tendência crescente de internacionalização dos serviços esvaziará ainda mais o mercado de trabalho dos Estados Unidos. Então, o que tudo isso nos diz a respeito de políticas públicas? Sim, nós precisamos consertar o sistema educacional dos Estados Unidos. Em especial, as desigualdades que os norte-americanos enfrentam logo no início – crianças brilhantes oriundas de famílias pobres têm uma probabilidade menor de concluírem um curso superior do que os crianças bem menos capazes, mas que são filhas de indivíduos ricos – não se constituem apenas em um escândalo; elas representam também um enorme desperdício do potencial humano do país.

Mas existem certas coisas que a educação não é capaz de fazer. Em especial, a ideia de que fazendo com que mais jovens cursem a universidade nós seremos capazes de restaurar aquela sociedade de classe média com a qual estávamos acostumados é inteiramente falsa. Ter um diploma superior não representa mais garantia de um bom emprego, e isso está se tornando cada vez mais verdadeiro a cada década que passa. Portanto, se quisermos uma sociedade na qual a prosperidade seja amplamente compartilhada, a educação não é a resposta – nós teremos que procurar construir tal sociedade diretamente.

Precisamos restaurar o poder de negociação que o trabalho perdeu nos últimos 30 anos, de forma que tanto os trabalhadores comuns quanto os super astros contem com a capacidade de negociar por melhores salários. Nós temos que garantir as coisas essenciais, em especial o acesso aos serviços de saúde, a todos os cidadãos. O que não conseguiremos fazer é atingir esse objetivo apenas dando diplomas universitários aos trabalhadores. Esses diplomas poderão representar cada vez mais a entrada em empregos que não existem ou que não pagam salários de classe média.


Paul Krugman
Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008

9 comentários:

Roberto disse...

Boa noite! Professora, tanto a disciplina e sua pessoa, faz com que adquirimos cada dia novas experiências.

dimi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
dimi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
dimi disse...

Boa Noite professora tudo bem?! Goste deste comentário sobre "Qualificação Profissional e Educação não Garantem o Futuro"! Eu tenho um comentário! Aqui no Brasil é dificil o aluno da rede publica (escolas estaduais e municipais); estão deixando a desejar, muitos alunos passam sem aprender nada! Como podem concorrer no mercado de trabalho! Sendo que os alunos classe média alta estuda em escolas particulares que presta um ensino de ótima qualidade diga se de passagem, com isso quando um aluno da rede publica e um aluno de escola particular presta a mesma prova para uma empresa ou concurso publico, quem passa?! Claro que é o aluno da escola particular por fim, não só por isso má varias outras coisas como: eles não trabalham e estudam ao mesmo tempo (sai do trabalho e vai para escola), se alimenta bem, descansa, tem qualidade de vida etc. Eu sei que não temos que desistir,más é a realidade.

Roberto disse...

Funcionária de creche São Manuel - SP supostamente da calmante (Diazepan)para crianças.
Hospital servidor municipal joga esgoto em céu aberto, será aberto sindicancia.

dimi disse...

A humanidade caminha, para onde?

Na minha opinião as coisas estão tomando tal rumo que está difícil de acreditar em melhoras; começando pelas emissoras de TV, passam coisas negativa do dia-dia como: mortes, assaltos, violência etc, as novelas passam traição corrupção, crianças se beijando, violência etc. filmes não ficam atrás passam coisas absurdas; a única emissora que passa coisas boas em diversos temas é a TV Cultura, tanto para criança adolescente e adulto.
Você sai na rua na primeira banca de jornal tem mulher pelada nas prateleiras, violência nos principais jornais etc, por fim as pessoas estão sem valores, sem amor ao próximo.
Agora tem a lei, contra os pais se eles derem uns “tapinhas” nos filhos podem ser presos, ai é o fim do mundo, imagine como está criança iram crescer, provavelmente não terão limites.

rmsenfermagem disse...

A informatica e a tecnologia,podem substituir as pessoas em determinadas área, mais exite serviços que necessita da mão de obra das pessoas, isto poderá ser mudado com amparo das autoridades governamentais, criando recursos para assegurar empregos com justiça social.

Márcia Alves disse...

Boa tarde Professora!
Este artigo é interessante.
Com o crescimento da tecnologia e equipamentos de nova geração, cada vez mais o mercado de trabalho ficará mais exigente. Só o nível superior não é mais suficiente, precisamos de mais qualificações, pós graduações e cursos extras como línguas estrangeiras por exemplo.
E aquele que tiver o seu currículo mais enriquecido terá o melhor lugar no mercado de trabalho, e isso nos mostra que o aprendizado é contínuo, nunca deve ser parado. Abraços Márcia

Charles Fábio disse...

Todo mundo sabe que a educação é um fator fundamental para o sucesso econômico. E todos sabem que os empregos do futuro exigirão níveis de qualificação cada vez mais elevados.Mas existem certas coisas que a educação não é capaz de fazer. Em especial, a ideia de que fazendo com que mais jovens cursem a universidade nós seremos capazes de restaurar aquela sociedade de classe média com a qual estávamos acostumados é inteiramente falsa. Ter um diploma superior não representa mais garantia de um bom emprego, e isso está se tornando cada vez mais verdadeiro a cada década que passa. Portanto, se quisermos uma sociedade na qual a prosperidade seja amplamente compartilhada, a educação não é a resposta – nós teremos que procurar construir tal sociedade diretamente.